segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Não adianta nem tentar me esquecer


A 20km por minuto aproxima-se o C413, 06:50 a.m. Vazio, bonito de se ver. Sem disputa pelo melhor lugar. O dia sem chuva. Plataforma 2 da Linha 12 da CPTM.
E eu jurava que meu dia seria torto caso ocorresse qualquer evento que me tirasse da rotina. Eu sempre quero a minha rotina. Ela é minha.
O trajeto Calmon Viana – Brás tem um tempo estimado de 62 minutos. Tempo exato que levei para chegar à Estação de Itaim Paulista e me deparar com o caos urbano dessa cidade com a inoperância do transporte coletivo.
Me lembro de ter refletido nas escadas durante uns 15 minutos antes de decidir o que faria naquela situação. Liguei pra Simone.
Claro, eu esperaria com o melhor dos meus olhos e ouvidos. Eu esperaria com a grande paixão pelas coisas inusitadas e pelas pessoas que vem e vão e aproveitaria para apresentar esse mundo fantástico à minha filhinha querida...
Nos arredores verifiquei algumas barracas de bolo de fubá cremoso e pingado. A gravidez é terrível nesse sentido, mas eu não arriscaria. Sou daquelas que procura pêlo em pudim, como diz um velho conhecido dessa vida.
Ás 08:15 da manhã a cidade já era musical. Pedais de bicicleta enferrujados, salto alto, Jornal do Concurso e Empregos folheados pelo vento dos carros passando pela rua, e ciganas com dentes de ouro e saiotes coloridos.
E no açougue o pernil sem osso estava à R$ 8,98 Kl. O Rei fazia o fundo sonoro para alavancar as vendas

Não adianta nem tentar
Me esquecer
Durante muito tempo em sua vida
Eu vou viver...

E o trio de ciganas na manhã de segunda...

Como você explica? Ele sai com uma troca de roupa suja e volta na segunda com a mesma roupa limpa... Quem lava pra ele, hein? Pra onde ele vai, hein?
Se fosse você o seguiria, mãe. Encara logo a verdade. Acabou, seja forte!

E Roberto...

Detalhes tão pequenos de nós dois
São coisas muito grandes pra esquecer
E a toda hora vão estar presentes
Você vai ver...

Pra quem era aquela pulseira, mãe?
Olha pra vc...
Tudo bem, ele é nosso pai, mas arrumar outra no mesmo acampamento...


E o rei...

Eu sei que esses detalhes vão sumir na longa estrada
Do tempo que transforma todo amor, em quase nada
Mas “quase” também é mais um detalhe
Um grande amor não vai morrer assim
Por isso
De vez em quando você vai
Vai lembrar de mim...

Mãe? Mãe?

Não adianta nem tentar

Me esquecer
Durante muito tempo em sua vida
Eu vou viver...

Abordavam, cada uma delas, os transeuntes apressados e perdidos na Estação de Itaim Paulista na manhã de segunda-feira, 14/12/2009, às 9 e poucas da manhã que não chovia

Me dê aqui a sua mão, moça bonita
A cigana lê o seu destino...

Essa vida é mágica, filha!