segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Sorry For The Mess



E tanto tempo, e tantas falas
As palavras que escondemos num passado distante
São as mesmas que gritamos o tempo todo para que sejam lidas
Por isso nos escondemos de portas abertas e somos encontrados, todos os dias
Num esconderijo absolutamente previsível
Absolutamente certos de que nos tornamos diferentes.

"Cordeiro de Deus que tirai os pecados do mundo,
Tende piedade de nós.
Cordeiro de Deus que tirai os pecados do mundo,
Tende piedade de nós.
Cordeiro de Deus que tirai os pecados do mundo,
Dai-nos a paz."

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Das cartas que escrevi

Tia Josi,

Pode parecer mentira, mas dias desses me peguei mergulhada em tantas lembranças boas dos meus dias em Santana do Jacaré, que acredito ter te transportado todo sentimento de carinho por tudo que você proporcionou à minha vida. Talvez por isso tenha sentido saudades.
Fiquei tentando imaginar quais serão as brincadeiras da minha filha. Se ela terá uma pracinha pra desfilar de chapéu e se vai gostar de batom e das coisas de menina, assim como eu.
Torço para que ela seja bem criança, mas que não estenda sua adolescência até os 20 e poucos (assim como eu - risos).
Eu espero que ela goste de poesia. As primeiras que li foram as suas. Foi na casa do vovô que eu li as melhores coisas. Eu ouvi Paulinho Pedra Azul pela primeira vez, do seu rádio. As minhas primeiras impressões sobre o universo feminino partiram de conversas saídas do seu quarto. Eu adorava as suas roupas. Eu adorava a sua letra... Senti sua falta nos últimos carnavais...
Ninguém, nunca terá uma casa de bambú ou de revista iguais as que você construiu para nós (eu, Lê, Lú, Glauco, Fabiano), por isso muita gente acha que vivemos um sonho, que infância assim jamais existiu. Por isso muita gente acha que Santana é lenda e que nunca nessa vida roubamos galinha e varamos a madrugada ao som de um violão desafinado.
Você foi professora de verdade, pintamos desenhos de verdade. Você cozinhava na cachoeira, enfeitava as festas dos outros com a sua criatividade, pitava o seu cigarro, trabalhava na prefeitura e então, podíamos entrar à vontade na praça esporte (risos).
Durante muito tempo eu precisei dessas lembranças pra fazer a vida mais doce. E ela era mesmo, mais doce. Minha vida até dias desses foi fantasia.
Esse sentimento deveria ser transmitido para o bebê durante a gestação. Assim, aqueles que nos são caros, seriam caros para os pimpolhos também. Meus olhos pelos olhos dela, os dela pelos meus, assim trocaríamos as coisas maravilhosas que vivemos ao longo dessa vida. Assim tornaríamos eternas as pessoas que fazem a diferença, que fazem o mundo da gente ter gosto de férias (risos).
Você é importante. Você é especial. Você mora aqui, no meu coração.

Amo-te.

Léo, O Pardo







 Léo, o pardo - Rinaldo santos teixeira

Da parte que me toca, a minha primeira paixão tinha sido a Elisa, menina negra linda de cabelo solto ou trança, que trabalhava na casa da diretora da escola, a Dona Silene.(...) Certo dia, a Elisa me encanou: "quero te dar um beijo de novela das oito". " Como que é isso?" "Eu coloco a minha língua perto do céu da sua boca, e você com a sua tenta desviar, se enrosca e tenta encontrar o céu da minha". E a gente ficou nessa.

Que saudade de você!

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Ambiguidade

Uma menina sentada no coreto da cidade do interior quase sempre sonha coisas distantes e possíveis de não acontecer da forma serena e angustiante que tanto almeja
Quase sempre sorri com lágrimas pelas coisas belas e bobas que a vida oferece e arranca de suas mãos tão pequenas de grandes gestos
A vida cheia de coisas boas difíceis de serem vividas por uma menina sentada no coreto da cidade do interior, quase sempre...
E sorri do amor que chega de mansinho e derruba sua resistência em acreditar que ele, de nada, vale tudo
Ela toma sorvete e observa lá de cima a vida correndo devagarzinho que nem dá tempo
E respira ofegante de tão lento que o dia passa, sente seu coração descompassado que parece que vez ou outra, para... ela sente
Quase sempre sonha coisas difíceis possíveis de serem alcançadas, ao ver a vida passar rapidamente naquele marasmo.
Lá do coreto. Sorri do amor que chega arrebatando com sua natureza calma. E da vida que lhe chega aos poucos com tanta urgência... quase sempre.
Lá do coreto. Um silêncio ensurdecedor que deixa ouvir a alegria gritando de tanta tristeza no coração de menina do interior, sentada no coreto tomando sorvete na agitação da cidade, quase sempre...
Quase...

domingo, 25 de setembro de 2011

Coletivo

Houve um tempo em que eu não me desligava um segundo. Atenta aos pontos de referências característicos da Zona Leste de São Paulo. Até para embarcar no trem os olhos eram espertos, as mãos seguras, bem dizer, agarradas à pilastra de sustentação dos tetos da Maria-fumaça.
Quase nunca eu entrava sossegada. Era praticamente “cuspida” para dentro. O cabelo tão bem penteado... É um balé o movimento da cabeça para não deixar arrepiar um fio daquele coque trabalhoso.
Percebia que com fones nos ouvidos o mundo lá fora parecia menos selvagem. Acho que a maioria das pessoas pensam da mesma forma. Hoje, consegue-se ouvir os pingos da chuva do lado de fora, na linha férrea. Isso assusta, mas consigo dormir o resto de sono que o tempo me surrupiou durante a noite. Aliás, o tempo tem sido implacável...
Particularmente não gosto de encontrar pessoas conhecidas durante o meu percurso. Finjo que estou dormindo ou fixo o olhar na paisagem do lado de fora das janelas embaçadas, vandalizadas, cheias de recados amargurados de pessoas que juram amor eterno.
O trem não circula mais de portas abertas. O maquinista repete isso com muito orgulho, de cinco em cinco minutos, mas os pés para fora garantiam uma cabeça para dentro. Agora, de portas fechadas, quem vê lá da rua, imagina centenas de artistas fazendo poses, amassando a boca e o nariz na janela para fazer graça pra criançada. Que maravilha!
As vezes me pergunto como alguém possui a façanha de movimentar o maxilar para comer uma coxinha, um croquete qualquer, exalando um cheiro de ontem dentro de um espaço mentiroso. O cheiro procura desesperado a saída e chega a pensar em suicídio. Instala-se nas narinas mais próximas para sentir-se seguro. Quase sempre são as minhas.
Hoje em dia parece que não vejo ninguém. Nem meço a distância entre a plataforma e o trem. Solto as mãos das pilastras para prestigiar o comércio do coletivo, sem medo de cair. Impossível alguém cair. Se eu tirar meu pé do lugar, perco território.
Antes a viagem durava cerca de uma hora e meia. De uns dias pra cá, eu acordo e já cheguei ao meu destino, não sinto nada.
Será que estou ficando desatenta? Cansada? Não tenho reparado se meus antigos pontos de referência mantêm a textura de sempre nas paredes.
É tudo silêncio. As pessoas apenas sussurram as histórias que outrora enchiam minha cabeça de imaginação e até rendiam alguns pontos nas provas do ENEM. O barulho, hoje, mais suave dá máquina, educa o tom das pessoas. Até os pedintes respeitam o seu sono. Quando você acorda, encontra entre suas pernas um papel apelativo que quase sempre começam com “desculpe incomodar”.
As coisas continuam acontecendo. A disputa pelo espaço ainda é motivo de caras tortas, olhares fuzilantes e cotoveladas provocadoras. Mas as pessoas falam mais baixo. É uma má educação mais elegante. Com batom e cheiro de “avanço”.
Esse silêncio chega a ser um insulto. Os olhares só se perdem nas brechas dos corpos para tentar flagrar um “encoxando” o outro. É uma neurose, todo mundo desconfiado e fingindo que está lendo.
Dinamizaram aqueles pontos da ferrovia. As pessoas querem ficar com a cara das novas estações. Tentam apagar da memória o antigo “sukitão”.
O trem circula com menores intervalos de tempo. (Mas está sempre aguardando a liberação da sinalização).
Os vagões possuem maior espaço físico. (Para comportar melhor o número de pessoas que disputam o mesmo ar com poucos vidros abertos e constantes beliscões nas nádegas).
O maquinista está mais gentil, desejando a todos uma boa viagem, dizendo bom dia, boa tarde e boa noite.
Os assentos preferenciais são sempre preferência. É o que mais se destaca com cores quase sempre suaves. E como temos idosos, gestantes e agora, pessoas com IMC maior que 40 também têm preferência.
Me lembro quando minha mãe me colocava de castigo, abraçada à minha irmã e pedia que disséssemos uma a outra “te amo”, a todo momento, quando na verdade eu estava louca pra descontar o puxão de cabelo. Desde então nunca mais tive essa sensação. No trem me sinto nostálgica. Vez ou outra me vem à mente esses castigos que minha mãe aplicava.
Não há nenhum outro lugar onde somos tão unidos: ouvimos as músicas dos outros, nos olhamos profundamente, nos tocamos, ficamos tão próximos! E olha que nem foram as nossas mães que mandaram... a coisa flui! Em instantes você percebe o quanto isso é natural. O quanto é uma boa desculpa para o seu mau humor durante o dia de trabalho.
O mais engraçado é que a carne amolece com tanto aperto. Saio do trem mais humana e com a minha criatividade mais aguçada.
De manhã sempre tem fogos na região onde desço. Então agarro minha bolsa e sou “cuspida” para fora. Piso na plataforma e digo: - “ah, areia de Copacabana! Só aqui temos fogos fora do Reveillon”.
Percebam: nem tudo está perdido!

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Foi-se embora


Desde que surgiste em meu caminho
Secaste minhas palavras
Como se na vida não pudéssemos ter tudo
Ainda que esse tudo represente quase nada
Mas quando decidiste ir embora, que maldade!
Devolveste a caixa de presente com meu coração pequenininho
Mas me voltaram as letrinhas, aos poucos, com saudade
Ora, se fizeste de mim tão triste, tão sozinha nessa dor
Que assim seja escrito
Porque foste, um dia, sem palavras, o meu amor.
"Conheci uma mulher que costumava dizer: não há amor que resista ao tanque de lavar (ou à máquina, mesmo), ao espanador e ao bife com fritas. Ela possivelmente exagerava, mas com razão, porque tinha uns olhos ávidos e brilhantes e um coração ansioso. Ouvia o vento rumorejar nas árvores do parque, à tarde incendiando as nuvens e imaginava quanta vida, quanta aventura estaria se desenrolando naquele momento nos bares, nos cafés, nos bairros distantes. À sua volta certamente não acontecia nada: as pessoas em suas respectivas casas estavam apenas morando, sofrendo uma vida igual à sua. Essa inquietação bovariana prepara o caminho da aventura, que nem sempre acontece. Mas dificilmente deixa de acontecer. Pode não acontecer a aventUra sonhada, o amor louco, o sonho que arrebata e funda o paraíso na terra. Acontece o vulgar adultério - o assim chamado -, que é quase sempre decepcionante, condenado, amargo e que se transforma numa espécie de vingança contra a mediocridade da vida. É como uma droga que se toma para curar a ansiedade e reajustar-se ao status quo. Estou curada, ela então se diz — e volta ao bife com fritas."

(F. Gular)