sábado, 27 de setembro de 2008

Conto Trágico

Marquês saía ao sol brilhante, arrasando a pele parda com sua camisa azul acetinada, por baixo do terno negro... seguia apressado a sua estrada.
A infância deixa a gente tão rápido, pensava por entre linhas. Fazia figuinha para a caneta acertar todas as respostas daquela prova... que não prova nada!
Lá fora o sol reluzia escaldante, lá dentro, a mente sofria cortante, o suspiro, o salto daquele sapato ecoando nos tímpanos sensíveis, momento incessante.
Quem disse que somos todos iguais, cadê a minha camisa fresquinha? Pensava alto, sofria lépido, penava ao máximo, assoviava cânticos.
Da mente não saía a garota da velha Santana, menina linda! E os bailes no Zé do Nhô, será que hoje tem? Tiro ela pra dançar, faço um poema, uma música, tenho tanto pra falar...
Era a chance do Marquês, engraxar sapato não rendia nada onde só se usam sandálias de correia. Iria pra cidade grande, não queria mais calejar as mãos na roça, pois ficaria difícil fazer sucesso com as meninas, sonhava, sonhava.
Achava esse menino, que difícil era chegar ao destino traçado, não contava o pobrezinho, que pequenos goles no barzinho, levariam sua vida pra onde de Santana do Jacaré, ninguém avistava.
Foi correndo tão vibrante, o primeiro passo deu adiante, de volta pra cidade pátria, fez-se cair vencido com as mãos suspensas no ar.
A peleja o deixava fraco, o mundo grande parecia causar-lhe medo, e tão só seguia, falsamente sorria, que sina, que trágico!
Diante dos sonhos é tão bom olhar, cada volta que se usa pra chegar que às vezes é melhor não atingir, dá medo de não ter mais por quem lutar.
De um salto levantou-se, mas as pernas não lhe pertenciam, não sabia se era a “marvada”, não sabia se era a estrada... Tão confuso!
Pra manter os olhos voltados para aquela vida que sonhara, precisava de um mundo além, pois o real não suporta as mentiras que vivem dentro de cada um de nós, é finda esta jornada.
Era vitória, era derrota, era sorriso, era tristeza, era fraco, era forte, era vida... era morte.
Nunca soubera pobre homem, distinguir utopia e realidade, livrou-se do terno negro e da camisa azul acetinada, que nem nas bandas altas tornara-se fresquinha, deixando quente o corpo que lá em baixo, jazia.
Que sina, que vida, que trágico! De Marquês só tinha o nome, pois na essência era homem cativo de falsa liberdade, de ilusões insípidas... por crer-se capaz sonhou o futuro... por absorver o medo, calou-se ínfimo... Que sina, que vida, que trágico!

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